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O Bulbo

Todo mundo que trabalha a bordo de um navio, seja da seção de convés, câmara, máquina ou passadiço sabe o que é um bulbo, na verdade sabem identificar a estrutura a bordo, mas o que é, e realmente como funciona são muito poucos.

por Dhiego Mota, 30/09/2017

Existem pesquisas e navios construídos com bulbo na popa, a exemplo do navio “ESSO MERCIA” construído no estaleiro alemão “A.G Wesser” em 1969 com um conceito de bulbo assimétrico, ou seja, fora da linha de centro na popa. Os atuais navios classe “Triple-E” da Maersk possuem conceitos parecidos, com um sistema chamado de “Duplo Skeg” na popa.

O conceito de bulbo creditado à David W. Taylor (um arquiteto naval que serviu como Construtor-chefe da Marinha dos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial) foi descoberto acidentalmente no início do século XX, durante testes em modelos de navios nos Estados Unidos. Taylor usou o conceito (conhecido como “bulbous forefoot”) em seu design do navio de guerra USS Delaware, que entrou em serviço em 1910. 


De início a ideia de um bulbo na proa não foi bem aceita pelos armadores e construtores até o final da década de 20 com o lançamento de dois navios de passageiros alemães, o “Bremem” e o “Europa”, após ambos os navios ganharem o cobiçado “Blue Riband” (prêmio concedido ao navio de passageiros a cruzar o atlântico na maior velocidade média), Bremen, em 1929, com uma velocidade de cruzamento de 27,9 nós e o Europa superando-a em 1930 com uma velocidade de cruzamento de 27,91 nós. Eles foram seguidos por outros navios, o francês “Normandie” e o italiano “ Rex”.


A primeira aplicação em navios cargueiros foram na década de 50, inicialmente em reefers, e por volta de 1955 em petroleiros e graneleiros. O primeiro petroleiro equipado com bulbo foi o navio norueguês “Grena” (1957). Hoje em dia, o bulbo é encontrado nos mais variados tipos e tamanhos de navios.

Mas como funciona um bulbo? Para entender o princípio de funcionamento primeiro precisamos entender a teoria de resistência no navio. Um navio se deslocando na superfície da água sofre uma resistencia ao seu avanço, essa resistência pode ser dívida basicamente em 3 partes:
1- Resistência devido a viscosidade da água, ou seja, devido a fricção da água no casco.
2- O navio ao se deslocar gera ondas ao redor do casco, para gerar esse sistema de ondas o navio gasta energia.
3- Resistência residual
No nosso estudo o que vai importar é o número 2, conhecida como resistência da geração de ondas. Didaticamente qualquer corpo que se desloca na superfície da água, gera um padrão de ondas, seja um pato na lagoa, seja um navio no meio do oceano.

É aí que o bulbo age, reduzindo essa resistência de ondas. Na figura abaixo podemos ver a onda gerada na proa (4) pelo casco normal (2), e a onda gerada(3) pelo bulbo separado(1), quando unimos a proa com o bulbo, a onda gerada pelo bulbo diminui a onda gerada pelo casco, reduzindo assim a resistência de ondas do navio, e consequentemente, o consumo de combustível.


Como a geração de ondas em baixas velocidades é pequena, a efetividade do bulbo é pequena para essas velocidades, conforme aumenta a velocidade, o bulbo se torna mais efetivo.

O bulbo de proa tem várias vantagens importantes e não apresenta desvantagens relevantes:
- Reduz a onda de proa, devido à onda gerada pelo próprio bolbo, tornando o navio mais eficiente em termos energéticos.
- Aumenta o comprimento do navio na flutuação, aumentando ligeiramente a velocidade do navio, reduzindo os requisitos de potência instalada e, portanto, o consumo de combustível.
- Funciona como um "para-choques" robusto em caso de colisão.
- Permite a instalação mais a vante do impelidor de proa, tornando-o mais eficiente
- Permite maior reserva de flutuação ou maior capacidade de lastro a vante
 -Reduz o movimento de cabeceio

A palavra BulBo é a contração de "Bulbous Bow", que foi o primeiro conceito utilizado.